Anúncios:

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Separados pelo concreto.

A alegria de Adolf Vanscovisk era imensa, era incomparável. Faziam 26 anos que ele não tinha nenhuma notícia de sua mulher e de seus dois filhos. Ele não sabia nem se iria reconhecer sua mulher após tanto tempo. Seus filhos já tinha certeza que não reconheceria.

Por muito tempo ficou imaginando se seu filhos já teriam se casado, ou se já tinha filhos. Ele não sabia nem se sua mulher havia o esperado. Só o que ele queria era poder atravessar aquela barreira que os separava.

Adolfo chegou a sonhar muitas vezes com esse momento. No seu sonho sele via o declínio daquela barreira e, como faz muito tempo da última vez em que ele teve este sonho, só o que ele se lembra depois disso é de ver a sua linda e sorridente Mary pulando de alegria por vê-lo, e ao seu lado estavam seus dois filhos.

Ele morava em Berlim. Esta que durante a Guerra Fria foi separada por um muro de concreto com cerca de três metros de altura, separando a capital da Alemanha e duas partes: a parte capitalista, também conhecida de Alemanha Ocidental; e a parte controlada pelos comunistas, também conhecida de Alemanha Oriental.

Adolfo morava na parte da Alemanha, que após a construção do Muro de Berlim ficou conhecida como Alemanha Oriental, mas trabalhava na parte conhecida como Alemanha Ocidental. Todos os dias ele se alevantava mais cedo do que toda a sua família e ia da bicicleta até o serviço, eram cerca de sete quilômetros e meio de distância a ser percorrida todos os dias, e ele percorria com muito gosto, porque sabia que quando chegasse em casa de noite sua mulher estaria lhe esperando com um sorriso lindo estampado no rosto e com a comida pronta.

Certo dia ele foi trabalhar, como todos os outros dias. Mas quando voltava pra casa à noite se deparou com a presença de dezenas de militares barrando qualquer um que tentasse passar para o lado Oriental, se fosse preciso até matavam. Ele se viu em uma situação desesperadora, pois não sabia o que fazer. Queria voltar para junto de sua família, mas não queria chegar lá em um caixão. Decidiu voltar para o trabalho e ficar lá junto do porteiro que o recebeu muito gentilmente. Desde então ele não tem notícia alguma de sua família. Isso ocorreu em 1961.

Hoje já fazem vinte oito anos. Pensou consigo mesmo. Não vejo a hora de revê-los.

Quando Adolf ouviu a notícia da queda do Muro de Berlim, se sentiu perdido, não sabia se pulava de alegria ou se chorava de emoção. Depois que acordou de seus pensamentos profundos percebeu que já estava fazendo os dois. Chorando e pulando de alegria. Ele nem imaginava que essa alegria que ele sentia não era nada comparada com a que ele sentira dentro de instantes.

Ele passou esses vinte oito anos trabalhando na mesma indústria e morou na guarita do porteiro durante quase quinze anos quando ele consegui comprar uma casa e mobiliá-la. Mas ele preferia passar o dia todo na indústria e só ir para casa dormir, já havia se acostumado.

Ele estava terminando seu horário, indo se trocar, quando ouviu alguém chamar-lhe. Tinha voz de mulher, mas ele não reconhecera. Ele se virou olhou bem para aquela mulher que vinha andando em sua direção. Ela vinha sorrindo e chorando, ao mesmo tempo que o chamava.

-Adolfo!Não se lembra de mim, amor. Disse aquela mulher, que agora não parecia mais estranha. Era sua mulher, que o esperou e o desejou durante estes vinte oito anos.

Mesmo separados. Ela sempre o amou, e todos esses vinte oito anos foram considerados tortura por ela. Marin lhe contou que seus dois filhos se casaram com mulheres maravilhosas e ambos já tem filhos, casa e trabalho fixo.

Os dois resolveram voltar a morar juntos.

- - -

Quatro meses depois do reencontro maravilhoso, Marin descobriu que estava grávida. E estava esperando uma menina. O sonho de Adolf sempre foi ter uma menina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não seja imaturo.
Use esta opção de mensagem para tirar suas dúvidas, deixar críticas, comentários ou sugestões.
Nada de xingamentos, palavrões ou indecências no geral.
Obrigado.