As reviravoltas do Destino

Ela não queria estar ali. Muito menos por estar vendo seu namorado sangrar. Ela não queria que nada disso acontecesse.

Julie nem sempre foi uma garota inteligente e bonita, isso aconteceu mais recentemente, mas sempre foi reservada. Mas tudo tem um início, e essa sua vontade de ficar sozinha começou quando ela conheceu Jorge.

Ela não foi aquela criança que é apontada pelos outros como bonitinha. Desde pequenina, Julie, era gordinha, não exageradamente, mas gordinha. Ela até poderia ser considerada bonita, mas isso antes de seus doze anos, quando começou a apresentar indícios de que teria muitas espinhas.

Com seus treze anos ela era gordinha, baixinha e cheia de espinhas. Ela nunca viu isso como um problema, ela nunca se importou muito com sua aparência, mas isso mudou. Mudou quando ela viu aquele garoto loiro dos olhos castanhos claros, de um sorriso estonteante entrar pela porta da sala.

Jorge era novo na escola, ele veio de outra cidade, se mudou porque seu pai havia conseguido um emprego melhor, e com maior remuneração.

Desde o segundo dia de Jorge na escola, Julie, ficou estranhamente diferente. Já não conseguia mais ir para escola com o cabelo desajeitado e muito menos com todas aquelas espinhas. Para mudar seu visual e passar a ser notada por sua primeira paixão, ela decidiu começar a esconder as espinhas com pó de arroz, penteou seu cabelo e arrumou, desajeitadamente, uma franja por sobre a testa, escondendo as espinhas e lhe dando um ar de confiança, além de começar a se maquiar e a implorar para sua mãe permitir que ela inicia-se a fazer malhação para emagrecer.

Todas as manhãs ela passou a se acordar uma hora mais cedo, a tomar banho e a se ajeitar para Jorge, mas ele não dava a mínima para ela. Fingia não conhecê-la, as poucas vezes que conversou com ela foram para pedir ajuda nas aulas de matemática. Jorge não era aquele tipo de garoto que podia ser considerado inteligente, e muito menos dedicado. Ela sempre o ajudou sem nem piscar, chegou a fazer o tema dele muitas vezes.

Certo dia decidiu que iria dizer para ele o que ela sentia. Durante a aula de matemática, Jorge, sempre fazia dupla com Julie, para se aproveitar de sua Inteligência. Neste dia ele percebeu que ela estava diferente, inquieta e decidiu pedir o que ela tinha. Para sua surpresa ela o beijou. A partir daquele momento ele nunca mais falou com ela.

Os amigos de Jorge começaram a caçoar dele, pelo fato dele ter ficado com Julie. De tanto ser caçoado ele se cansou e decidiu mudar isso. Foi até Julie que estava sentada em sua classe lendo, como sempre, enquanto todos se divertiam, porque o professor lhes dera uns minutinhos para conversar no final da aula, e gritou bem alto, para que todos ouvissem:

- Você não deveria ter me beijado, agora eu estou com uma doença! – Ele parou e olhou para os lados, para ver se todos estavam olhando. – Sabe qual é?
- Não. – Julie respondeu com a maior inocência.
- Alergia a gordas apaixonadas! Gritou Jorge. E gritou alto, muito alto, enquanto apontava o dedo para o rosto de Julie.

Ela ficou toda vermelha e, sem saber o que fazer, juntou seus materiais e saiu correndo.

No outro dia, por onde passava todos os dias, a apontavam e gritavam:

- Olha! Olha a gorda apaixonada!

Ela se isolou mais ainda. E a partir de então não conseguia mais estudar.

Chegando em casa, algumas semanas depois do acontecido, Julie, implorou para que sua família se mudasse daquela cidade, pois ela não agüentava mais.. Após muito discordar a sua mãe decidiu aceitar. E não demorou muito para se mudarem de Erechim para irem morar em Caxias do Sul.

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Julie, em momento algum, parou de se cuidar: intensificou as idas a academia, começou a ajeitar melhor seu cabelo, e começou uma dieta alimentícia. Tudo isso após o ocorrido. Naquele momento só o que ela queria era mudar. Ela não queria deixar de ser inteligente, e muito menos deixar de estudar, mas queria ficar mais bonita, para nunca mais ser chamada de "Gorda Apaixonada". E suas espinhas... Com o tempo e com a melhor alimentação, Julie, percebeu que diminuiu, consideravelmente, as espinhas que infestavam o seu rosto. Agora, era muito raro ela ter espinhas.

Com três anos seguidos de dieta e academia, Julie, já era uma das mais cobiçadas de sua nova escola. Mas infelizmente, em uma tarde muito bonita ela recebeu uma péssima notícia: ela teria que voltar para aquela cidade... Isso mesmo, a cidade na qual ela foi alvo de caçoamento: Erechim.

No começo ela não entendeu porque, mas depois compreendeu. Depois da morte de seu avô, sua mãe não queria mais ficar longe da avó de Julie. Por isso queria voltar.

Julie não se importou mais, e começou a gostar da idéia, já imaginando como estariam algumas pessoas que ela gostaria de rever, e quais seriam suas reações perante a nova Julie.

Ela já estava inscrita no segundo ano do ensino médio, da mesma escola onde estudou até a oitava série. Na manhã do dia seguinte ela iria rever aqueles que a fizeram ir embora, e já estava ansiosa.

Na manhã seguinte, Julie, se acordou cedo, se preparou toda: tomou banho, se passou creme, se maquiou muito bem, colocou roupas bem justinhas, que acentuavam seus seios grandes e seu bumbum e pernas bem torneadas, penteou muito bem os cabelos deixando uma franja caída sobre seu olho esquerdo e se passou um perfume delicioso, que já fora de sua mãe.

Ela quis chegar atrasada, só para surtir um efeito na sua volta triunfal. Logo que entrou deixou todos os garotos da sala de queixo caído. Durante o intervalo das aulas quase todos vieram querer saber seu nome, menos dois: Jorge e um novo aluno, o único que a despertou interesse, mas também o único que parecia ter vergonha de ir conversar com ela, justamente por, talvez, ter gostado dela.

Julie estava apaixonada de novo, era o que ela imaginava, pois toda a vez em que via aquele garoto misterioso seu coração batia mais forte. Conversando com uma amiga, ela descobriu que seu nome era De Rick, e que era muito isolado, só conversava com os professores ou quando alguém falava com ele, mas normalmente, só caçoavam dele. Isso a deixava ainda mais interessada.

Jorge ficou louco, não sabia o que fazer. Desde que entrou naquela escola ele era o centro das atenções e todas as garotas que ainda não tinha ficado com ele queriam. Ele era considerado quase um "Príncipe Encantado", do subúrbio, e que depois de ficar com qualquer garota que o tinha com esta imagem, virava sapo.

Derick sempre foi reservado, e muito. Mas também sempre foi bonito, e sempre chamou atenção. Com seu cabelo castanho-escuro, seus olhos verdes, um rosto bonito, acompanhado de um sorriso reluzente, sem falar de seu corpo semi-atlético e seu jeitinho desajeitado. Nunca teve namorada porque não quis. Uma vez, uma garota linda, que era sua vizinha, pediu para namorar com ele. Ele não respondeu. Ele somente sorriu e a beijou. No dia seguinte ele fingiu que não a conhecia. Mas houve um motivo: ele tinha medo, não de namorar, e sim de machucá-la. Foi só o que ele disse para ela. Duas semanas depois do beijo.

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Quando ele viu aquela garota linda entrando na sala, ele sentiu seu coração batendo mais forte, se viu todo vermelho, com vergonha até de olhar para ela. Mas com o tempo isso mudou, ele passou a olhar para ela e planejar o melhor jeito de ir conversar com ela, e qual seria o melhor assunto a tocar após a abordagem. Ele nunca foi bom quando o assunto era conversar, e muito menos conversar com uma mulher, e ainda mais linda daquele jeito.

Ele chegou a tentar. Durante o recreio ele fica sempre em um canto lendo, e todos os dias a cada virada de página ele dava uma olhada para procurar por Julie, ela estava sempre no mesmo lugar: sentada com umas amigas do lado contrário de onde ele ficava. Só que um dia ele percebeu que ela estava sozinha. Uma parte dele o mandava ir conversar com ela, a outra ficava dizendo: "Será que ela vai conversar comigo? Ou será que ela simplesmente irá se alevantar e sair andando?" Ele pensou isso durante alguns minutos, e percebeu que ela ficava olhando para ele e arrumando seu cabelo por trás da orelha. Depois de muito hesitar ele decidiu que não tinha nada a perder. Fechou seu livro e se alevantou. Olhou diretamente para ela e foi andando até onde ela estava sentada.

Julie viu que ele se aproximava decidiu sorrir. Respirou fundo e olhou para aquele rapaz lindo que vinha em sua direção. Ele chegou, e com seu jeitinho desajeitado sentou-se de seu lado, a cumprimentou e em seguida sorriu. Ela respondeu o cumprimento, educadamente, sorrindo. A partir daí os dois passaram a se conhecerem melhor. Depois de alguns dias de muita conversa, e muitas indiretas, os dois se beijaram. Depois do primeiro beijo veio o segundo, o terceiro, assim por diante. Até o dia em que Derick decidiu pedir Julie em namoro. Foi difícil para ele, mas depois que ele viu o sorriso que Julie exibia com a maior vontade ele se esqueceu do medo. A resposta dela foi sim, com toda a certeza de que eles seriam um casal feliz. E foram. Até Jorge se meter e quase estragar tudo.

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Jorge não suportava a idéia de ter perdido a garota mais linda da escola para um Nerd que já fora isolado. E todos os dias seus amigos faziam questão de lembrá-lo que ele já tinha rejeitado aquela garota e que agora o melhor que ele podia fazer era esquecê-la, pois ela já tinha namorado e não queria nada com ele. Mas ele não conseguia por isso na cabeça, ele sempre foi cabeça dura, como seu pai. Sua mãe sempre dizia:" Como diz o velho ditado: A fruta nunca cai longe do pé."

Ele não suportava a idéia de ser rejeitado por uma garota, pois sempre foi a garanhão da escola, desde que chegara ali. Depois de alguns meses ele já se via sem amigos, visto já estavam cansados dele não querer mais sair à noite, muito menos fazer valer seu antigo papel de garanhão. Ele estava obcecado por Julie, mesmo sabendo que ela não queria nada com ele. Ele decidiu pelo pior, pôs uma idéia horrível em sua mente, e estava preparado para pô-la em pratica. "Se ela não for minha, não será de ninguém", pensava Jorge.

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Estava tudo normal naquela manhã. Como todos os dias Derick espera Julie em frente ao portão de sua casa. E naquela manhã não fora diferente. Mas enquanto ele caminhava tranquilamente até a frente da casa de sua namorada ele percebeu que estava sendo seguido, mas não deu bola, continuou seu caminho sem hesitar. Ele olhou para os lados para procurar o rapaz que o seguira até ali: nada. Não tinha ninguém na rua, tirando um cachorro que remexia os sacos de lixo da casa ao lado.

Quando Derick viu Julie saindo pela porta da frente e se despedindo de sua mãe, se sentiu aliviado, não gostava da idéia de ficar sozinho naquela rua, mesmo sendo de manhã cedo. Julie saiu pelo portão e o cumprimentou com um beijo carinhoso e caloroso na boca. Os dois começaram a caminhar em direção a escola, que não ficava mais do que seis quadras dali.

Enquanto conversavam, tranquilamente, o mesmo rapaz que seguira Derick até o portão da casa de Julie, se pusera a segui-los. Este rapaz estava com um canguru preto, com o capuz sobre a cabeça, com uma calça jeans, e um olhar cabisbaixo maldoso.

Derick comentou com Julie, ela olhou para trás e não viu ninguém, pois neste mesmo momento o rapaz de capuz se escondera atrás de um carro estacionado próximo a entrada de uma casa. Ela acalmou Derick dizendo que era apenas sua imaginação. Ele assentiu e os dois continuaram a andar calmamente em direção a escola.

Quando os dois iam fazer uma curva leve para esquerda um rapaz alto de canguru preto e capuz sobre a cabeça fez os dois pararem. O mesmo rapaz que Derick disse para Julie que estava os seguindo. Este os abordou apontando uma arma para Derick, e em seguida disse:

- Se ela não for minha não será mais de ninguém! Após dizer essas poucas palavras, o rapaz, atirou contra Derick, e este caiu no chão. Após atirar ele tirou o capuz e olhou para Julie por alguns breves segundos, e depois correu.

Julie imediatamente se ajoelhou e pôs a cabeça de Derick sobre seus braços. Quando fez isso percebeu que a bala, felizmente, tinha acertado seu braço esquerdo. Após se olharem por um tempo ela ligou para o hospital e em seguida para sua mãe que ligou para a polícia.

A ambulância não demorou muito, mas a polícia sim. Depois de descrever Jorge para a polícia, Julie, se encaminhou para o hospital junto com Derick, e ficou junto dele até que se recuperasse por completo. E Fosse para casa.

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Jorge correu... Correu feito um louco, como alguém perdido, sem saber o que fazer, mas sabendo o que tinha feito e quais seriam suas conseqüências. Ele se escondeu durante dois dias em uma casa abandonada perto da antiga casa de um de seus amigos. Lá todos os dias ele ia até o morador mais próximo e tentava roubar algumas frutas da macieira. Mas ele não agüentava mais o sentimento de culpa, achava ter matado Derick, e já percebera que não era o homem que Julie queria e não insistiria mais nessa burrice.

Após muito pensar sobre o que tinha feito ele decidiu se entregar.

Cinco anos de cadeia, e mais dois de serviços comunitário, foi só o que ele pegou por tentativa de homicídio. Mas ele aprendeu, e com toda certeza não faria algo como aquilo de novo.

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Três anos. Três anos se passaram desde o incidente, mas Derick e Julie decidiram excluir aquela parte da vida dos dois. E conseguiram. Derick já tinha dezoito anos e Julie também, ambos estavam trabalhando e vivendo um relacionamento ótimo, naquele início de ano os dois decidiram ir morar juntos.

Uma manhã como outras. Pensou Julie, olhando para o relógio que marcavam exatamente 12:00hs. Neste momento todo o dia Julie sai para o almoço, mas naquele dia Derick a ligara mais cedo a convidando para almoçarem juntos. Julie não criou muitas expectativas, pois eles faziam isso de vez em quando, principalmente quando o relacionamento parecia monótono demais.

Chegando ao restaurante Julie notou que Derick estava vestido diferente, ele tinha abotoado a sua camisa até o colarinho, colocou-a dentro das calças. Quando ela chegou perto ele se levantou e a cumprimentou, em seguida lhe ajeitou a cadeira. Após uma longa conversa, seguida de um curto silêncio Derick se levantou da cadeira e se ajoelhou ao lado dela, olhando diretamente para os olhos de Julie, retirando uma pequena caixa em forma de cubo e dizendo:
- Julie, já namoramos há tanto tempo, e se amamos tanto. Você quer se casar comigo?