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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Incondicionalmente.

Bruce tem uma filha de três anos. Ele é completa, infinita, incondicional e indiscutívelmente apaixonado por ela. Ele faria qualquer coisa por sua filha, mesmo que isso significasse sua vida. Na filha ele vê a beleza perdida de seu outro eterno amor: sua mulher. Sua mulher foi, e pra ele sempre será, o melhor acontecimento de sua vida. Ele e ela foram um casal esplêndido, ele mesmo se surpreendera com a facilidade dos dois de se darem bem. Mas, infelizmente, não durou para sempre, como ambos queriam. Sua mulher se foi. Ela morreu após um acidente terrível, onde dois caminhões prensaram seu carro, em uma autoestrada. O único "lado bom" dessa perda foi o fato de Julie ter sobrevivido por tempo suficiente na barriga da mãe, dando chances aos médicos de retirá-la de lá viva.

Eu decidi, para o bem de minha filha, que nunca iria esconder o fato de sua mãe não poder estar aqui do seu lado por uma terrível brincadeira do destino. Preferi que ela soubesse, pois sei como é ruim se sentir perdido no mundo. Quero dizer: se eu disesse a ela que sua mãe simplesmente tinha ido embora logo depois que ela nascera, Julie acabaria achando que a culpa seria sua, e isso a destruiria pouco à pouco. Como eu sei? Minha mãe nunca me disse por que meu pai havia nos deixado, e eu realmente achei que era culpa minha, e um dia investigando o passado de minha mãe acabei, por um acaso encontrando uma foto com ela e "um amigo", que mais tarde eu acabei descobrindo que era meu pai, e que ele sempre quisera me conhecer, mas minha mãe nunca o permitiu, isso doeu muito. Não sei se poderei perdoá-la.

Minha filha foi mais que uma bênção em minha vida. Foi muito mais, não acho possível expressar a alegria que senti quando a vi em meus braços, fiquei muito feliz, mesmo tendo acabado de saber que minha mulher não aguentara, eu pude ver aquele ser de tamanho insignificante sorrindo pra mim. Naquela hora eu ergui a cabeça para o céu e comecei a chorar e entendi o porque do sofrimento que Ele me fizera passar.


Todos os dias me acordo bem cedo e dedico o tempo que tenho livre para passar junto com minha filha. Eu trabalho das 2hs da tarde até as 22hs. O resto do tempo do meu relógio está totalmente organizado para ela, qualquer movimento meu nesse espaço de tempo é para ela. Do começo ao fim do período em que trabalho ela fica na casa de minha mãe. Eu não sei como e nem quando isso aconteceu, mas ela é a garotinha de três anos mais educada que eu já conheci em toda minha vida. Eu sei, parece elogio de mais, e ainda por cima vindo do próprio pai, mas é a mais pura verdade, nunca tive qualquer problema com sua educação.

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Hoje me acordei muito feliz, ao invés de fazer a programação normal para uma sábado decidi levar Julie para passar na praia. Eu disse a ela aonde nós iriamos, e logo avisei que a viagem seria cansativa, mas a beleza da praia iria compensar. Ela aceitou alegremente sem exitar, pois sempre quis conhecer uma praia e verdade, eu sempre adiei esse passeio, pois ir para a praia nos fins de semanas era a atividade favorita de sua mãe. E ela já sabia disso, por isso não me pressionava, deixava em meu critério escolher quando era a hora certa de levá-la para conhecer o mar.

O caminho de ida foi longo mas calmo, não havia muito trânsito e, felizmente, não tivemos problemas com chuva e nem nada mais, o dia estava perfeito para o nosso passeio.

Quando chegamos à areia eu acordei Julie, quando eu vi seus olhos brilharem somente por olhar aquela areia branquinha e aquele mar de um azul marinho perfeito, não me conti, acabei desabando em lágrimas. Ela se assustou e com aquela sua inocência indiscutível me perguntou:

- O que foi, papai?
- Nada não querida. Não se preocupa com seu pai, estou bem, só que seus olhos me lembraram os de sua mãe. - Respondi, enchugando as lágrimas com as mãos.
- Posso ir até o mar, papai?
- Claro que sim, só antes me espere. É bem rápido, vou pegar as nossas coisas no caro.

Ela me seguiu com um sorriso enorme no rosto, me ajudou a pegar o que precisávamos, e depois, sempre ao meu lado, mesmo ansiosa, voltou a pedir permissão para ir ver o mar de perto.

- Claro, filha, vamos tomar um banho de mar, juntos. - Respondi a ela, e vi seu olhos brilharem de novo, daquela mesma forma, enquanto ela sorria de orelha a orelha.

Peguei a sua mãozinha, que perto da minha não era nada, e nos encaminhamos para o mar. A cada passo seguia sua feições procurando uma nova amostra de aprovação, e a cada nova amostra me sentia o melhor pai do mundo.

Quando chegamos bem no limite, aonde o mar já ricocheteava nas lindas areias brancas, ela parou olhou para cima e falou:

- Podemos entrar, papai? - Como eu poderia recusar um pedido daqueles? Nunca me senti tão feliz como naquele momento, talvez só no dia em que a peguei no colo pela primeira vez.

- E porque não? Vamos! - Começamos a correr juntos e eu percebi que a cada novo passo que ela dava, cada gota de agua que a molhava se transforma num amor inconfundível por aquelas águas.


Brincamos na água por muito tempo, só paramos para lanchar. Em momento algum notei algum tipo de tristeza em seu rosto, e isso sim me realizava. O dia foi passando, e antes que pudesse ser tarde de mais para voltarmos, tivemos que começar a viagem de volta.

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Tudo na viagem ocorria muito bem. Nós dois já planejávamos a próxima estada ali, naquela praia, e ela já deixara bem claro que seria por pelo menos uma semana. Pra mim, parecia perfeito! Tudo que eu queria era ser feliz ao lado dela, viver sua infância junto com ela, sem perder um momento, para poder olhar para trás e poder sorrir dizendo que nada tinha sido em vão.

- Papai, coloca uma música?
- Sim. Qual você quer ouvir?
- Não sei, pode ser aquela que a mamãe gostava muito ? - Não podia resistir.

Normalmente eu pararia o carro, para não precisar arriscar no meio daquela autoestrada movimentada. Mas não vi necessário, pois a música estava no mp3 conectado com o rádio do carro, só precisava procurá-la e dar play.

- Antes do senhor por papai, qual o nome da música? - Antes que eu me direcionasse ao rádio ela me fez essa pergunta.
- Cry, The Veronicas. Eu sei, você deve estar pensando, por que a sua mãe gostava tanto de uma música com um nome tão difícil...
- Não, papai, o nome me parece lindo, eu só não entendo. - E logo sorriu. Não pude me conter, também sorri, quase não segurando as lágrimas, de novo.

Procurei a música. Não foi difícil encontrá-la. Logo depois que ela começou, vi Julie sorrindo lá na sua cadeirinha no acento de trás.

Quando a música acabou ela riu de uma forma maravilhosa, que também me lembrava sua mãe e depois falou, com aquele seu jeitinho fofa de ser:

- Papai, agora essa é minha música favorita.

Ouvindo isso não me aguentei, me derramei em lágrimas me lembrando de todos os momentos maravilhosos que passei com sua mãe. Cada pequeno momento passou em minha mente. Olhei atentamente para a rua procurando alguma curva ou algum carro, como não vi decidi encostá-lo só para ir até o banco de trás do carro beijar e abraçar minha linda filha.

Parei o carro, tirei o cinto, saí do carro e entrei na parte de trás. Lá soltei a cadeirinha onde minha filha sentava e nós dois se abraçamos. Eu poderia ficar preso naquele momento para sempre. Mas nem tudo pode ser como a gente quer. Decidi que era melhor irmos para casa de uma vez, pois já estava anoitecendo.

Prendi ela em sua cadeirinha novamente, e saí do carro. Por injustiça do destino, meu cadarço estava desamarrado, me agachei e o amarrei. Enquanto o amarrava ouvi e vi dois carro vindo, um em cada sentido. Fiquei tranquilo, sabia que nada ia acontecer, pois meu carro não iria atrapalhar nem um dos dois veículos.

Ambos os carros se aproximavam, eu já ia entrando no carro quando notei algo de errado. O carro que vinha na direção contrária da minha estava ziguezagueando na pista. Isso me deixou um pouco nervoso. Entrei no carro com pressa e o liguei. O carro estava cada vez mais perto. Avancei, tentando fugir de um choque, que já parecia inevitável. Depois do momento em que avancei só me lembro da luz do farol se aproximando. Depois barulho, muito barulho. E dor, muita dor, principalmente na perna. Só depois que, aos poucos, fui recobrando a consciência, ainda no carro, me lembrei que não deu tempo de repor o cinto. O que poderia ter evitado aquela dor.

JULIE! Rapidamente me virei para trás, e a vi olhando para mim com uma expressão de pânico horrível, que nunca vira igual. Fiquei mais nervoso ainda, desesperado para tirá-la daquela cadeirinha, eu tive a sorte dela não ter chorado, se ela chorasse não saberia como reagir.

Ainda sentado no banco do motorista, avaliei minha situação, não estava tão má, tinha só quebrado a perna esquerda. Me virei e vi Julie ainda com aquela expressão, virei o meu tronco o máximo que pude, passei minha mãe pelo seu rosto e disse:

- Filha, tudo bem? - Esperei por sua resposta, mas nada. - Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Eu estou aqui. Já estou indo aí atrás para te tirar do carro.

Tentei me mecher. DOR! MUITA DOR! Minha perna realmente estava quebrada. E agora sei que era em mais de um lugar. Olhei, pelo espelho retrovisor, mais uma vez para minha filha e voltei a me esforçar, sem me importar com a perna.

Consegui me jogar para fora do carro. Com a adrenalina do momento parei de sentir dor na perna e comecei a sentir forças vindo de todas as partes de meu corpo, mas a mais forte vinha de meu coração. Tinha medo, medo de perder minha filha, mesmo sabendo que ela parecia bem, fisicamente, me preocupava com seu estado emocional.

Me arrastei até a porta traseira e subi, com pouca dificuldade, no banco de trás do motorista. Respirei fundo, para me acalmar, e comecei a soltar as três fivelas dos cintos de segurança da cadeirinha. Após tirar todos. Abracei minha filha e "escorreguei" para fora do carro.

Já fora do carro me arrastei por pelo menos um vinte metros do meu carro, que estava praticamente sem frente, com minha linda filha nos braços, com aquela expressão horrível saindo pouco a pouco de seu lindo rosto.

Logo comecei a tentar tranquilizá-la, dizendo-lhe que tudo ia acabar bem, e confirmava pra mim mesmo que tudo já estava bem. Quando me preparava para ligar para a ambulância, um rapaz, motorista daquele outro carro, que deveria ter visto tudo, chegou do meu lado, pediu se estava tudo bem, viu minha perna e me avisou que já tinha chamado as autoridades competentes. Eu o agradeci e pedi que ele fosse ver como estava o motorista que me atingira. Ele, mesmo sem entender, foi. Acho que ele pensou, que numa hora dessas, vendo a minha situação, eu iria querer matá-lo.

Logo me esqueci do rapaz. Olhei para a garotinha aninhada em meus braços. Apertei-a mais, e tranquilizei-a novamente. Enquanto eu repetia que tudo estava bem, me surpreendi. Ela me olhou, alevantando a sua cabecinha, e disse:

- Calma, papai, eu estou bem. - Arregalei os olhos, me preparei para pedir sobre aquela sua expressão no carro, mas ela continuou. - Sabe quem veio me visitar ? - Parei de respirar, a peguei pelos dois braços, a virei em direção a mim e olhei em seus olhos. E novamente quando ia falar ela continuou:

- A mamãe! Ela ficou do meu lado o tempo todo. Ela pediu para mim cuidar muito bem de você, e mandou a visar que te ama muito!

Ela sorriu! Desabei em lágrimas, com um turbilhão de pensamentos e emoções passando pela minha cabeça. Sorri chorando para minha filha. Abracei-a e disse:

- Eu também a amo! Tanto quanto amo você, querida.




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